terça-feira, 17 de junho de 2008

TRANSTORNO DA TIMIDEZ...

Batizada “evitação” na edição III-R da classificação americana (DSM-III-R: Distúrbio de evitação), preferimos conservar o termo TIMIDEZ. Aparece no DSM- IV com os subtipos “inibido” e “desinibido” do “distúrbio de apego defeituoso da criança”.
A timidez pode ser definida como o desconforto e a inibição em situações de interação pessoal, que interferem na realização dos objetivos particulares e profissionais de quem a sofre. Caracteriza-se pela obsessiva preocupação com as atitudes, reações e pensamentos dos outros. A timidez aflora geralmente (mas não exclusivamente) em situações de confronto com a autoridade, interação com pessoas do sexo oposto, contato com estranhos e à fala diante de grupos. A timidez é um padrão de comportamento em que a pessoa não exprime - ou exprime pouco - seus pensamentos e sentimentos, e não interage ativamente. Embora não comprometa de forma significativa a realização pessoal, constitui-se em fator de empobrecimento da qualidade de vida.
A timidez é uma característica da personalidade. Em algumas pessoas, ela é mais acentuada; em outras, só aparece em momentos em que é necessário se expor. É considerada natural quando a criança ou adolescente é exposto a uma situação onde será avaliado, observado, ao fazer algo pela primeira vez, e se sente inseguro. É a famosa “vergonha”. Já a timidez em excesso impede a criança ou adolescente de realizar alguma tarefa - como apresentar um trabalho em sala de aula, participar de uma peça de teatro ou obter uma informação – e se relacionar com outras pessoas. A timidez é prejudicial quando passa a ser uma barreira, um empecilho para a realização de conquistas e resoluções de problemas.
Todos os graus de timidez podem ser vistos no comportamento. Existem, assim, crianças sempre calmas, facilmente submissas, agindo de modo que nunca se fale delas, qualificadas habitualmente de muito obedientes, mas que conservam, no entanto, uma possibilidade de contato com as outras crianças: brincam ou trabalham com prazer.
Podem-se encontrar mais importantes: crianças sempre isoladas que não ousam, apesar de seu desejo por vezes confesso, aproximar se dos outros, tanto dos adultos quanto das crianças: não brincam no pátio da escola, permanecem em casa durante os dias de folga, recusam atividades de grupo (pré-forma de fobia social). Sua atitude é, por vezes, contrastadas com seu próprio meio , onde podem, em um contexto protegido, mostrar-se autoritárias e dominadoras.
No ponto máximo, encontra-se realizado o quadro do mutismo extrafamiliar. Na maioria dos casos, a família fala de timidez simples que, quando se torna demasiadamente importante, pode entravar os processos de socialização da criança, de onde vem o termo de fobia social. Esta ocorre quando o tímido já nem consegue exercer suas atividades rotineiras por simples medo de se expor.
A timidez pode igualmente afetar o corpo da criança: pouco móvel, pouco ativo, mímica pobre. Chegando até a inabilidade gestual, até mesmo de verdadeiras dispraxias que nada mais fazem do que agravar o círculo vicioso da timidez.
“A timidez escolar, em particular, representa um dos motivos mais freqüentes de consulta de crianças entre 8 e 12 anos. A timidez pode afetar todos os setores da vida da criança, tanto as condutas socializadas quanto as mentalizadas. A timidez reflete na apenas a tendência comportamental (retraimento, evitação das relações sociais), mas também a tendência intrapsíquica( branco de memória, capacidade de pensar...)” (MARCELLI. p.240)
NA ESCOLA
Marta Braga, orientadora de Educação Infantil do Colégio Andrews, do Rio de Janeiro, numa entrevista dada para o site
www.bolsademulher.com.br, no dia 27/08/2005, comenta que são várias as causas que levam ao excesso de timidez, mas a mais freqüente é o alto nível de exigência consigo mesmo. “Essas crianças sentem um grande medo de desagradar ao outro”, ressalta. Ela conta que, no ambiente escolar, não é difícil notar os excessivamente tímidos. “Eles falam pouco, em voz baixa, fazem poucos amigos e não participam dos momentos coletivos”, descreve a orientadora.
Outra orientadora do mesmo colégio, Eneida Balthazar, atenta para o fato de que crianças tímidas demais podem ter o rendimento escolar prejudicado devido ao seu comportamento. “Isso pode acontecer, na medida em que elas não mostram o que sabem nem solicitam o auxílio dos adultos”, afirma. É aí que entra um trabalho todo especial dos pais e professores, que devem agir em conjunto para ajudar a criança a superar o problema. “Há uma preocupação da escola em favorecer o processo de construção de identidade e autonomia. É preciso que cada criança seja respeitada na sua singularidade. Nós orientamos os pais a incentivar o convívio com crianças fora da escola e que não cobrem o tempo todo a mudança desse comportamento. Já os professores devem incentivar a participação da criança, inicialmente em pequenos grupos, e tentar aproximá-la dos colegas nas brincadeiras de pátio. Em alguns casos é necessária a indicação de uma terapia”, diz Eneida.
DIÁLOGO, UM SANTO REMÉDIO
”Em casa, o primeiro passo para a melhora da criança é incentivá-la a falar. Deixar que ela conte o que sente e pensa às pessoas em quem ela mais confia: os pais. A criança precisa perceber que possui o direito de pensar, arriscar, tentar atingir seus objetivos. E o melhor lugar para fazer isso é o ambiente familiar, que deverá ajudá-la a melhorar sua auto-estima, transmitindo segurança e confiança. Quando os pais tiverem que dar orientação sobre algo, devem fazer sempre um reforço positivo ou um elogio. Depois, sim, devem falar a respeito de algo que desejam passar para o filho. A timidez em excesso é um problema que tem tratamento, mas que envolve não só a criança ou o adolescente, como também a participação dos pais e a parceria da escola.” (MOCELLIN, Anna, 2005)


REFERÊNCIAS
MARCELLI, D. Manual de psicopatologia da infância de Ajuriaguerra. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Site: E:\Timidez infantil - Bolsa de Mulher.mht

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Por que continuar falando em limites?

Parece fora de moda, desinteressante e até cansativo falar em limites. A palavra não impressiona e não seduz a atenção dos pais, fazendo-nos acreditar que esta é uma questão já superada, aprendida e utilizada na educação dos filhos. Os temas preocupantes de hoje são outros, entre eles: a violência urbana, a falta de valores em crianças e jovens, o bullying, o uso de álcool e drogas e o desinteresse por atividades escolares, etc.

Pensando assim, por que escrever um texto que trata da falta de limites e das conseqüências negativas que daí repercutem? Por que insistir em um tema que tantas vezes já foi abordado neste projeto Conversando com os Pais?

A resposta está clara: a excessiva permissividade dos pais, o receio de impor limites e o eterno desejo de preparar os filhos para sucessos e protegê-los das frustrações está na base dos problemas citados acima.

A criança que agride a professora, que se nega a cumprir as regras de socialização da escola, assim como o jovem que desrespeita o idoso, que transgride as leis de trânsito e o adulto que não consegue firmar-se numa relação amorosa estável ou numa profissão, são vitimas e resultado de uma educação familiar que, por motivos diversos e por repetidas vezes, não conseguiu conscientizá-lo e responsabilizá-lo por suas ações.

A psicopedagoga Adriana Meyer Torres, através de seu texto SE FALTAM LIMITES, AUMENTAMOS AS CONSEQÜÊNCIAS NEGATIVAS, pesquisa a fundo as conseqüências negativas que a falta de limite pode trazer, assim como apresenta sugestões aos pais para resolver ou prevenir este fato. Veja os principais trechos:
”Aos dois anos é apenas um “piti” no supermercado; uma birra totalmente compreensiva e tolerável, afinal, a criança pequena está aprendendo a lidar com a questão do pode ou não pode. Em pouco tempo, os ataques de raiva da criança – agora com 4 ou 5 anos – se intensificam, deixando-nos frente a situações constrangedoras sempre justificadas pelo sono, nariz entupido, princípio de gripe e outras desculpas típicas dos familiares. Já após os 7 anos, estas atitudes se tornam tão incômodas e insuportáveis que assustam os responsáveis, obrigando-os a buscar novas interferências e, o pior, trazem a triste constatação que a tendência é só piorar.
A dificuldade de aceitar limites vai tornando crescente e em pouco tempo aparecem problemas nas relações com os colegas, no comportamento na escola e nas festas familiares. A próxima fase, se não houver uma ação coerente, são os distúrbios de conduta, desrespeito aos pais, colegas e autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, baixo rendimento e a percepção que este indivíduo está adquirindo uma visão totalmente distorcida da realidade.
A partir de agora ninguém mais agüenta conviver com este “reizinho” tirano e mandão, que só reconhece o seu querer, o seu bem-estar e o seu prazer. Daí para agir com agressões físicas, perder o controle se contrariado e não persistir diante das dificuldades, é um pequeno pulo.
Se, por um lado, as pequenas ações agressivas são consideradas normais na criança, não é nada normal (e nem saudável) a falta de postura e de comprometimento do adulto próximo, que hesita em intervir ou se nega a tomar atitudes coerentes e constantes (até porque a ação educativa é um processo longo e demorado) para pontuar e fortalecer os vínculos afetivos positivos.
Cada vez que nós tomamos consciência que devemos dizer sim sempre que possível e não sempre que necessário, agimos ensinando às crianças e adolescentes que os direitos são iguais para todos, que minha liberdade acaba onde começa a do outro e que é necessário aturar pequenas frustrações para poder enfrentar a vida.
Para isso, não precisamos bater, gritar, ser autoritários ou mesmo exigir atitudes convenientes somente aos nossos interesses; basta premiar e recompensar com atitudes verdadeiramente positivas. Ou seja, ressaltar sempre a ação correta com um elogio, manifestando e destacando modelos positivos, dando palavras de estímulos e exemplificando possibilidades para que o indivíduo possa analisar os fatos por outras perspectivas, e principalmente preparar-se para assumir a responsabilidade pelos seus atos.
O princípio básico para uma ação funcional é diferenciar necessidade de desejo. Há itens que são necessários e indiscutíveis para a idade, como: com comida não se brinca, na varanda só pode ir acompanhado, ir à escola é obrigação e não escolha, dirigir só após pegar a habilitação, etc. Outros não passam de modismo e desejo, e para isso se concretizar precisam ser discutidos, avaliados e associados ao comprometimento pessoal, por exemplo: pode ir à uma festa durante a semana desde que se comprometa em não faltar a aula no dia seguinte.
Crianças entre 1 e 4 anos precisam ser premiadas ou ter ciência da conseqüência imediatamente no momento do seu ato. Nada de esperar chegar em casa ou o dia seguinte. Já entre 5 e 7 anos, aja com mais disciplina e sempre com coerência. Enuncie as normas aos poucos e seja bem claro, não impondo, mas participando-os de cada colocação. Entre 8 e 11 anos, exija que digam onde estão e com quem. Reserve um tempo diário para conversarem. Reforce constantemente valores éticos e passe segurança que eles não devem acompanhar os outros e/ou agir por medo de perder uma amizade.
Já na adolescência, é imprescindível que eles sejam responsabilizados pelos atos inadequados. Tenha compreensão, seja justo e equilibrado. Saiba ouvi-los e tolere os momentos de mudez absoluta, ignore a cara feia e os resmungos. Faça-os reconhecer e respeitar as normas vigentes. Ressalte as vitórias escolares, esportivas e sociais. Mantenha o diálogo. Seja verdadeiro, breve e objetivo sempre. Incentive-os a falar de suas vidas, pensamentos e a ser independente.
E, para encerrar, percebam que em momento algum as sugestões de premiação são bens materiais. Busquem valorizar o carinho, o afeto e o reconhecimento através de bilhetes motivadores, pequenos passeios, jantares especiais e outras surpresas amistosas.”

O SOEP do Colégio Antares deseja que estes esclarecimentos tragam as respostas necessárias para que seus filhos tornem-se cidadãos com valores éticos, seres humanos felizes e dispostos a colaborar com o bem estar familiar, escolar e social.
BIBLIOGRAFIA:
Elaborado pelo SOEP, com base no texto “Se faltam limites, aumentamos as conseqüências negativas” de Adriana Meyer Torres.

terça-feira, 20 de maio de 2008

ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO: TER OU NÃO TER?

A maioria dos pais já presenciou seu filho pedindo insistentemente um animalzinho de estimação.
BOA NOTÍCIA!! Esses bichinhos, sejam eles cachorros, gatos, peixinhos, passarinhos, podem auxiliar no desenvolvimento emocional das crianças.
Estudos revelam que as responsabilidades e as exigências desses pequenos animais mostram às crianças que outros seres vivos precisam de elementos como o afeto, o cuidado, o respeito, a higiene e a dedicação, para sobreviver. Esse aprendizado acaba sendo importante para o desenvolvimento da sociabilidade e da auto-estima infantil.
Outro aspecto positivo desse contato, criança e animalzinho de estimação, é que ele possibilita à criança a aprendizagem sobre o ciclo da vida, as perdas, o nascer, e o morrer e, assim, incorporar noções sobre sua própria natureza e sobre o mundo em que vive.
Independentemente do animal escolhido, o segredo da boa convivência é ensinar às crianças com muita paciência e clareza essas “pequenas” responsabilidades, atentando ao fato de que estas não devem ser vistas apenas como obrigações, mas como parte do relacionamento entre a criança e seu animalzinho. Essa atitude possibilita que a criança desenvolva a noção de ética e respeito por aqueles que dependem dela.
Agora papai e mamãe que vocês já sabem as vantagens e a extrema importância de ter um bichinho de estimação dentro de casa, façam já sua escolha!!
Segue abaixo algumas opções:
POODLE: É famoso pela fidelidade, aptidão para o adestramento, obediência, inteligência, doçura o que faz dele um cão de companhia muito agradável.
YORKSHIRE: Possui um temperamento carinhoso, afável, independente e vivaz fato que o torna uma companhia excelente.
DACHSHUND: Dachshund, basset, cofap, salsicha, seja qual for o nome, o pequeno Dash ganha simpatia e apego ao dono. Entre nós é considerado mais um cão de companhia, inteligente e afetuoso.

JULIANA KUBRUSLY

sábado, 10 de maio de 2008

HOMENAGEM AS MÃES

Que vida louca levamos nós, mães modernas, mães do século 21, mães de filhos únicos, ou de muitos filhos que se tornam únicos pelo pouco tempo que conseguimos ter para cada um...Que vida louca temos nós, que acordamos ao raiar do dia e saímos para o trabalho delegando a outras, que em casa deixam seus filhos também, que sejam as mães que nossos pequenos não tem ...Que vida louca temos nós que somos mães por telefone em tempo integral, que fazemos de nosso horário de almoço um momento para checar a lancheira, arrumar uniforme, fazer “Maria chiquinhas” e ter tempo de lembrar as antigas mães e mandar seu filho escovar os dentes...Que vida corrida temos nós, cheia de horários marcados com momentos de ser mulher, mãe, amiga, esposa, profissional, namorada... somos muitas e as vezes não conseguimos ser tudo...Vivemos uma rotina que rotina mesmo quase não tem , pois o dia é sempre um mistério para aquelas que tem filhos, afinal nunca sabemos se o dia que começou é o dia marcado para a dor de garganta chegar, ou para a prova surpresa de matemática, ou para briga com o amiguinho na escola, ou para pesquisa sobre o relevo que ele esqueceu de te avisar...Sabemos apenas que vivemos assim.... Acordar... trocar de roupa para o trabalho, esperar pacientemente que sua secretária do lar não falte, olhar seu filho dormindo por mais alguns minutos e ter vontade de ficar com ele só por hoje um dia inteiro, sair de casa, despedir-se do filho e dar muitas ordens a empregada que a deixam perdida... ir para o trabalho, ser profissional, ser mulher moderna, ser guerreira, lutar pra vencer, fazer a diferença no mundo profissional...Ligar ao longo do dia para marcar pediatra, fugir correndo do serviço para assistir a apresentação da escola no dia das mães, procurar alguém para buscar seu filho na escola porque hoje apareceu uma reunião e não tem como ir, e sempre acabar contando com a sua mãe para te fazer esse eterno favor...Correr, preocupar-se, desdobrar-se vencer o dia, e ainda chegar em casa checar a tarefa, supervisionar o banho, fazer mil e uma perguntas sobre o dia de seu filho, sentir-se culpada por não ser mais presente, brincar, dar atenção, cantar uma música, ler uma história, assistir pela bilionésima vez o filminho da Disney e acabar adormecendo ali, na caminha de solteiro ou do lado do berço, cansada, mas realizada por ter sido por mais um dia MÃE...

Autor Desconhecido

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

O brinquedo nada mais é do que a linguagem da criança.”(FESCHER, 2006)

Os jogos e as brincadeiras não costumam ser levados muito a sério pelos adultos. Aliás, gente séria não perde um minuto do seu precioso tempo brincando. Deve se ocupar e, sobretudo, produzir!
Não é a toa que as crianças modernas estão cada vez mais pressionadas por pais, educadores e o próprio meio social a executarem tarefas que não têm fim, mantendo todas as horas de seu dia bem preenchidas com atividades que vislumbram o seu “futuro” e as separam da fugaz infância.
Como educadores sabemos que nem sempre essa prática resulta na formação de pessoas competentes. Furta-se a infância, momento único e rico de aprendizagens, as quais se tornam concretas por meio do BRINCAR.
Por meio do brincar espontâneo, a criança está experimentando o mundo, os movimentos e as reações, tendo assim elementos para desenvolver atividades mais elaboradas no futuro.
Através do simbólico jogo da brincadeira, a criança irá entender o mundo ao redor, testar habilidades físicas (correr, pular), funções sociais (ser o construtor, a enfermeira, a secretária), aprender as regras, colher os resultados positivos ou negativos dos seus feitos (ganhar, perder, cair), registrando o que deve ou não repetir nas próximas oportunidades (ter mais calma, não ser teimoso). A aprendizagem da linguagem e a habilidade motora de uma criança também são desenvolvidas durante o brincar.
A brincadeira permite um extravasar dos sentimentos, auxilia na reflexão sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o desfecho mais satisfatório ao seu desejo.
AS BRINCADEIRAS E SEUS SIGNIFICADOS
Brincar de se esconder e aparecer ou esconder e achar objetos é a primeira atividade lúdica de uma criança. Através dessa ação ela elabora a angústia de desprendimento por um objeto que pode vir a perder. A maioria das mães sai todos os dias para trabalhar e “desaparecem” do campo visual daquela criança, mas logo depois de terminar suas atividades volta a aparecer, com isso esse jogo simbólico ajuda o bebê a elaborar essa angústia que é ficar sem a mãe, tendo a certeza que ela vai voltar. Esta é a forma que a(o) menina(o) experimenta de perder e recuperar aquilo que ama.
A criança também descobre através dos movimentos que ao bater em objetos pode reproduzir sons. Todos os sons lhe interessam e muitos lhe assustam. Ela tenta reproduzi-los para vencer o medo.
Na segunda metade do primeiro ano surge novo interesse em seus brinquedos: descobre que algo oco pode conter objetos e que alguns objetos podem entrar em objeto oco. Este grande descobrimento é o anúncio de forma adulta de manifestar amor e afetividade. Passa, assim, a explorar tudo o que seja dessa natureza e a usar tudo o que possa servir para brincar dessa forma: os olhos, os ouvidos e a boca, lhe permitem fazer suas primeiras experiências de exploração.
Logo aparecerá o interesse pela bola, brinquedo que constituirá o centro de seu interesse. Esse objeto tem um excelente valor substitutivo da mãe, pelo formato circular (similar ao ventre materno), fazendo a criança procurar um contato as vezes mais afetivo. Porém, a bola pode ser utilizada na agressão, para bater no adulto, pois ainda não ousam a abordá-lo corporalmente.
Podemos citar também o interesse da criança pelas cordas. Esta despertam desejos agressivos de dominação e servem para amarrar, enrolar, imobilizar o outro, mas as possibilidades técnicas de se fazer um nó é quase inexistente nessa idade, por isso ocorre a frustração, o que ensina a criança a conviver com esse sentimento. A agressão é então reduzida. A corda também servem de meio de união à distância, lembrando assim o cordão umbilical, mediador de contato.
Os bambolês, brinquedo de grande interesse durante a primeira infância, são espaços fechados, dentro dos quais podemos incluir o corpo, proporcionando às crianças dobrarem o corpo neles, ficando em posição fetal. Esse objeto serve também para capturar o outro, adulto ou criança. Tal “captura”, especialmente a do adulto, tem umas significações diferentes, de acordo com o que a criança está vivenciando no momento, podendo ser agressiva ou afetiva.
Assim com as bonecas, os animais prediletos serão objetos de amor e maus tratos. O começo da aprendizagem sobre a maternidade e a paternidade se traduzirá em jogos com esse material. Além desses, já citados, existem outros brinquedos eleitos pelas crianças como importantes, no decorrer de sua vida, cada qual com um valor simbólico, dependendo de sua história.
Com base nisso, Winnicott comenta que o brincar é a base fundamental da existência humana, representando, pois, a própria saúde, sendo a base de todo o agenciamento simbólico e do desenvolvimento infantil. É bom recordar, diz o autor, que o brincar é por si mesmo uma terapia.

PSICOMOTRICIDADE
Trata-se de uma prática de mediação corporal que, através da brincadeira espontânea, oferece um espaço de liberdade no qual a criança pode se mostrar abertamente. Através de seu corpo, emoções, fantasias, medos e conflitos a criança se apresenta com um SER inteiro e encontra, nesta proposta, um meio no qual são legitimados os seus pedidos, suas necessidades, bem como o conhecimento e o reconhecimento de si e dos outros.

TEORIA X PRÁTICA

· COORDENAÇÃO DINÂMICA GLOBAL: Possibilidade do controle e da organização da musculatura ampla para a realização de movimentos complexos. Ex: Correr, andar, saltar, rastejar, etc.
· COORDENAÇÃO MOTORA FINA: Capacidade de controlar os pequenos músculos para exercícios refinados. Ex: Recorte, colagem, encaixe, etc.
· EQUILÍBRIO: É a noção de distribuição do peso em relação a um espaço e a um tempo e em relação ao eixo de gravidade. Ex: Andar na ponta dos pés, andar com um copo de água na mão, etc.
· LATERALIDADE: É a capacidade motora de percepção integrada dos dois lados do corpo (direito e esquerdo). Ex: Pular de um pé só, cruzar a mão direita na orelha esquerda, etc.
· TÔNUS: Refere-se a firmeza muscular, está presente nos músculos em repouso e em movimento .Ex: Subir escadas, brincar de “cabo de guerra”, etc
· ORIENTAÇÃO TEMPORAL: Diz respeito à maneira como a criança se situa no tempo (ontem, amanhã). Ex: Montar o calendário da escola, contar o que fez ontem, comemorar aniversários, os planos pra amanhã, marchar, andar em diferentes velocidades, etc.
· ORIENTAÇÃO ESPACIAL: È a maneira como a criança se localiza no espaço que a circunda (“estou atrás da cadeira”) e como situa as coisas, umas em relações às outras (“a bola está de baixo da mesa”).Ex: Uma criança se esconde e a outra tem que dizer aonde ela está, etc.
· PERCEPÇÃO: É a capacidade de reconhecer estímulos. Ex: Jogos que dêem a capacidade de reconhecer o quente-frio, pesado- leve, seco- molhado, etc.


“O homem está no menino, só que o menino não sabe.
O menino está no homem, só que o homem esqueceu.” (ZIRALDO, 1997)


REFERÊNCIAS

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fonseca, 1996.
SANCHÉZ, Pilar Arnaiz. A psicomotricidade da educação infantil: uma prática preventiva e educativa.
VAYER, Pierre. O Diálogo Corporal: A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. São Paulo, Sp: Manole Ltda, 1984.
WINNICOTT, Clare. Explorações Psicanalíticas: D. W. WINNICOTT. Porto Alegreok: Artes Médicas Sul, 1994.
JARDIM, Cláudia Santos. BRINCAR: Um Campo de Subjetivação na Infância. 2. ed. São Paulo: Annabllume, 2003.
FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fonseca, 1996.
OLIVEIRA, Gisleine de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação psicomotora num enfoque pedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
PICQ, L. e VAYER, P. Educação psicomotora e retardo mental. 4. ed. São Paulu: Manole, 1988.
SANCHÉZ, Pilar Arnaiz. A psicomotricidade da educação infantil: uma prática preventiva e educativa.
YAÑEZ, Zulema Garcia. Psicomotricidade e seus Conceitos Fundamentais: Esquema e Imagem Corporal In Escritos da Criança N. 4. Porto Alegre, RS: Centro Lydia Coriat, 1994.
BOSSENMEYER, Melinda. Guia Para o Desenvolvimento da Percepção Motora. São Paulo, Sp: Manole Ltda, 1989.
VAYER, Pierre. O Diálogo Corporal: A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. São Paulo, Sp: Manole Ltda, 1984.
ABERASTURY, Arminda. A Criança e Seus Jogos. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
CATUNDA, Ricardo. Brincar, Criar e Vivenciar na Escola. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
MEUR, A. de. Psicomotricidade: educação e reeducação: níveis maternal e infantil. São Paulo: Manole, 1989.
ABERASTURY, Arminda. Psicanálise da Criança: Teoria e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.


S

domingo, 4 de maio de 2008

MÃE, ESTOU GORDO??

Vivemos aparentemente na era do respeito pelos direitos humanos, mas, por desconhecermos o teatro da nossa mente, não percebemos que jamais esses direitos foram tão violados nas sociedades democráticas. Alguns estudiosos falam de uma ditadura que frustra a auto-estima do ser humano: a ditadura da beleza. Cerca 600 milhões de mulheres são vítimas dessa busca inalcançável pela beleza das passarelas.
O que ocorre é que esses padrões mexem com o psicológico das pessoas, pois fica claro o conflito: não sabem como se valorizar pelos pensamentos e atitudes. Existe uma influência acirrada que impõe padrões magérrimos fazendo-as acreditar, cada vez mais, que só serão bem aceitas pela sociedade caso se aproximem desse ideal.
No caso dos homens, em menor escala, essa cobrança também é alta. Os garotos com sobrepeso sempre são discriminados pelos colegas nas atividades esportivas e acabam sofrendo preconceito no dia-a-dia.
Os padrões de beleza são definidos pelas propagandas na TV e em revistas. Isto é resultante de uma mídia capitalista que bombardeia tantas informações de forma que a pessoa chega até mesmo a esquecer sua individualidade e a natureza da beleza. Os resultados desta forte influência são notórios, como a obsessão pela magreza, as dietas, a malhação, a
cirurgia plástica, a moda e os produtos de beleza.
Os transtornos alimentares podem provocar graves conseqüências e levar à morte. Há alguns anos estes eram encontrados somente entre adultos, geralmente mulheres jovens, de classe média. Aos poucos, porém, o perfil dos pacientes com tal distúrbio foi mudando. A doença passou a atingir pessoas cada vez mais jovens até chegar a crianças de ambos os sexos.
Atualmente, já podemos supor que as raízes dos transtornos alimentares encontram-se na infância, já que na nossa cultura as crianças são encorajadas a acreditar que ser magro é uma necessidade. As meninas, de forma particular, já nos cinco primeiros anos de vida começam a associar magreza com beleza e sucesso. Elas são expostas a esta mensagem até mesmo através dos brinquedos, como a boneca barbie (magra e bela). Os homens, por sua vez, aprendem a admirar e buscar o padrão forte, alto e musculoso.
Por trás desta ditadura da beleza estão as crenças: “a gordura não é algo que você tem, mas é algo que você é”; “a gordura é má”. Tais afirmaçãoes são internalizadas pela criança, aumentando ainda mais a sua vulnerabilidade aos padrões descritos acima.
A família tem um papel fundamental na educação alimentar de seus filhos, podendo ajudar as crianças a manterem um peso mais saudável sem incutir as mensagens de que a gordura é má e que ser gordo é feio. De acordo com isso, Brazelton, médico pediatra, cita em seu livro “Momentos Decisivos do Desenvolvimento Infantil” alguns pontos que podem ser seguidos pelos pais que buscam essa educação:

¥ Enfatize a confiança da criança com relação ao próprio corpo. É importante fazer com que ela desenvolva uma consciência corporal.
¥ Ensine sobre a diversidade das pessoas (pesos e alturas diferentes não determinam quem as pessoas "são"). Cada pessoa tem seus atrativos. Cultue a idéia de que existem muitos pesos normais que estão de acordo com a idade, a altura e o sexo da pessoa.
¥ Estimule a individualidade: "Você e seu corpo são únicos e originais"; "Você tem o direito de se sentir bem consigo mesmo independente do seu aspecto e peso".
¥ Não defina os alimentos como "bons" ou "maus". Com essa categorização dos alimentos você fará com que seu filho se torne vulnerável para ser um futuro candidato que irá resolver seus conflitos emocionais através do alimento (comendo demais ou de menos).
¥ Discuta sobre alimentação e nutrição em termos de "combustível do corpo" e não em categoria "bom/mau".
¥ Valorize o seu próprio corpo. Existem muitos pais que esperam que a criança tenha um comportamento confiante em relação ao próprio corpo, quando eles mesmos não têm. Não adianta uma mãe dizer a filha o quanto ela é bonita, quando ela mesma vive se depreciando o tempo todo.
¥ Não deixe a criança ser manipulada por publicidades. Ensine-a a ser crítica como consumidora, não deixando que ela seja influenciada por falsos conceitos de beleza e felicidade.
¥ Mostre à criança que não é necessário ser "perfeito" para ser feliz, nem para ser amado.
¥ Faça-a entender que todos têm capacidades e limitações e que você não espera que ela seja capaz de tudo.
¥ Enfatize as qualidades dela e mostre que sente orgulho.
¥ O esporte deve ser valorizado como diversão e uma oportunidade de socialização, fazendo novos amigos, não simplesmente uma pratica para perder peso ou ficar em forma.
¥ Uma alimentação variada é mais saudável.

Contudo, se seu filho costuma se recusar, durante vários meses, a comer até mesmo os alimentos essenciais para um crescimento saudável, talvez tenha chegado o momento de procurar ajuda. Se ele não estiver engordando e estiver abaixo do peso normal, é melhor aconselhar-se com um profissional. Tendo em vista que qualquer distúrbio físico vai refletir-se na alimentação, o médico vai querer verificar isso em primeiro lugar. Se não houver nenhum problema médico, um psicoterapeuta poderá avaliar o seu filho e ajudar quantos aos problemas com a alimentação. O importante é não se desesperar.
Para fugir desses padrões de beleza impostos pela mídia, que às vezes agridem tanto o aspecto físico quanto o emocional, talvez seja necessário que as pessoas dêem outro significado aos seus conceitos de beleza e aos de seus filhos, priorizando os pontos fortes a fim de descobrir sua beleza natural.
Auto-estima, segundo Augusto Cury, é um estado de espírito, um oásis que deve ser procurado no território da emoção. Cada mulher, homem, adolescente e criança deveria ter um caso de amor consigo mesmo, um romance com a própria vida, pois todos possuem uma beleza física e psíquica particular.


“Beleza é algo, na sua essência, muito relativo. Não é uma ciência exata como, por exemplo, a matemática em que 2 + 2 = 4 e não há questionamentos.” (Rambo do Senegal)

BIBLIOGRAFIA: Texto adaptado dos livros
CURY, Augusto Jorge. A ditadura de beleza e a revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
BRAZELTON, T. Berry. Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

PSICOTERAPEUTA??? POSSO???

Esse texto surgiu de uma demana da disciplina de TTPII durante meu curso de Psicologia. Tem como objetivo uma resenha sobre o livro "Cartas a um jovem terapeuta" do autor Calligaris. Por isso, só dá para sentir o gostinho de quão bom o livro. E para quem vai seguir essa arte de ser psicoterapeuta..este livro se torna INDISPENSAVEL!!!! Pois tira a maioria das duvidas pertinentes a pratica psicoterapica. CONFIRAM...
“CARTAS A UM JOVEM TARAPEUTA”
RESENHA

O livro apresenta uma série de cartas e bilhetes escritos pelo psicanalista Contardo Calligaris a um jovem que esteja a iniciar, profissionais já atuantes ou interessados pela área da psicoterapia.
Nas cartas, Calligaris se dirige a dois jovens em início de carreira e procura dar-lhes uma noção do que é e do que não é ser terapeuta Através da troca de perguntas e respostas destes com o autor, o diálogo vai se estabelecendo e o autor passando todo seu conhecimento e experiência em psicologia. Aborda temas polêmicos de forma bem humorada, porém não discriminatória, e trata também de questões clássicas tais como o que deve ser o setting, o que seria cura em psicoterapia, o que fazer com o amor transferencial, quais características necessárias para ser um bom psicoterapeuta. Discute situações em que o paciente se apaixona pelo terapeuta, traça reflexões sobre o começo da carreira, diferenças entre psicoterapia e psicanálise, a problemática de se conseguir mais pacientes, dentre várias outras questões, como:
-Vocação profissional
-O primeiro paciente
-Amores terapêuticos
-Formação
-Curar ou não curar
-O que fazer para ter mais pacientes?
-Questões práticas
-Conflitos
-Infância e atualidade, causas internas e causas externas, contudo deixa claro que para ser um Psicoterapeuta, de uma forma bem geral, tem que ter duas características principais: GOSTAR DE GENTE E TER COERÊNCIA PROFISSIONAL.
O autor começa o livro falando abertamente que para ser um bom terapeuta o sujeito tem que possui alguns traços de caráter ou de personalidade que dificilmente poderão ser adquiridos durante a formação. Na maioria das vezes essas características já devem estar constituídas no sujeito desde muito tempo. Uma das mais interessantes e essenciais que o autor comenta firmemente é a de que se você quer ser psicoterapeuta e sua personalidade for do tipo que necessita de amor, admiração e gratidão do mundo, tente outra profissão e desista da psicoterapia. Pois, afirma Calligaris, nas curas que proporciona a psicoterapia, o terapeuta é, por assim dizer, ele mesmo o remédio, muitas vezes amargo, difícil de ser “engolido”. E de fato a psicoterapia faz seu efeito e o paciente para de idealizar o terapeuta. Não podemos cair no erro de confirmar uma idealização de um paciente, pois nós terapeutas trabalhamos com a angústia, o sofrimento, e muitas vezes acolhemos o paciente frustrando.
Outro traço de caráter levantado pelo autor é a curiosidade e o respeito pela variedade da experiência humana. Comenta que é importante que tenhamos nossas crenças e valores, mas para um psicoterapeuta “o bem e o mal de uma vida não se decidem a partir de princípios preestabelecidos; eles se decidem na complexidade da própria vida da qual se trata. Um mesmo sintoma pode ser a razão do sucesso ou do fracasso de uma existência”.(CALLIGARIS, p. 12). E se talvez você se depare com um paciente que está fora dos seus limites e achar que não vai ser possível escutá-lo sem um juízo moral preconcebido, ou seja não conseguir respeitar a singularidade do paciente, encaminhe-o para outro psicoterapeuta, aconselha Calligaris.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o autor coloca sua opinião pessoal a respeito de outra característica que um terapeuta precisaria ter: “uma certa quilometragem rodada”. Desconfio aqui, pelo que pude entender, que estava querendo falar de um autoconhecimento do próprio psicoterapeuta, em outras palavras, que o terapeuta viesse a conhecer as variedades de sua própria vida. Nesse sentido o autor traz uma reflexão, polêmica, como sempre, sobre algo muito importante, principalmente nos dias de hoje, a respeito de uma suposta “normalidade” do psicoterapeuta. Comenta que o importante é você se conhecer e trabalhar com as variedades que se apresentam, como já foi dito anteriormente, mas que caso você esteja desistindo da profissão só porque você não é um “modelo de normalidade”, segundo o autor, não precisa disso e nem dessa preocupação. Trabalhe-se, mas não se cristalize.”Segundo, e mais geral, quem estigmatiza categorias universais, como ”os homossexuais”, “os sadomasoquistas”, “os exibicionistas”, etc.,é um atacadista, enquanto a psicanálise trabalha no varejo: a fantasia e o desejo só encontram seu sentido nas vidas singulares”.(CALLIGARIS, p. 16)
“Resumindo, meu jovem amigo que pensa em ser terapeuta, se você sofre, se seus desejos são um pouco (ou mesmo muito) estranhos, se (graças a sua estranheza) você contempla com carinho e sem julgar (ou quase) a variedade das condutas humanas, se gosta da palavra e se não é animado pelo projeto de se tornar um notável de sua comunidade, amado e respeitado pela vida afora, então, bem-vindo ao clube: talvez a psicoterapia seja uma profissão para você”.(CALLIGARIS, p.18)
Contardo Calligaris coloca seu ponto de vista sobre alguns assuntos muito polêmicos da psicoterapia atual, como: A duração da sessão, pagamento, setting, entrevistas preliminares e supervisão, e se expressa muito bem nesse livro.
O autor comenta que o setting não é condição nem garantia de nada. Segundo ele, uma análise ou uma terapia acontecem pelas palavras trocadas e pelas relações que elas organizam, não pela forma ou maneira que o paciente se acomoda (deitado ou sentado) e cita o próprio Freud quando levanta a questão que talvez a decisão possa depender simplesmente de uma questão de conforto, seu e de seu paciente.
A respeito das entrevistas preliminares, Calligaris coloca que a pergunta principal a ser feita é: Será que nesse caso, eu poderia ser algum auxílio para o paciente? De acordo com o autor temos que nos engajar com pacientes de possível estabelecimento de aliança, pois um terapeuta ou analista não é indiferente a “traços” dos pacientes, podendo alguns deles vir a prejudicar um engajamento do terapeuta na cura deste e vice-versa.
Quando vai falar sobre a duração da sessão e do pagamento assume uma posição bem particular da sua experiência e no que acredita ser o melhor e aconselha que façamos a mesma coisa, pois sustenta uma opinião de que não existe um modelo ideal a ser seguido.
Fala que prefere adotar como duração da sessão, um tempo variável, mas não breve, segundo o autor foi uma maneira que encontrou de respeitar o próprio ritmo de sua atenção e da sua maneira de escutar e intervir.
Coloca também que a questão do dinheiro e a freqüência das sessões são variáveis como sua duração, pois estes dependem das necessidades da cura do paciente.
E por último, acredita que a função da supervisão de um jovem terapeuta ou analista, deve ser autorizar o terapeuta, inspirar-lhe a confiança em seus próprios atos, sem a qual nenhuma cura vai ser possível.
Outro ponto interessante, são das utilidades da leitura desse livro para os jovens terapeutas, sejam das áreas psiquiátrica ou psicológica, dando uma noção da importância de cada uma dessas áreas, sem discriminação e sem conflitos. Calligaris nos dá como exemplo um paciente deprimido que, uma vez medicado, pode voltar a ter condições de participar ativamente de sua psicoterapia, ao contrário do que pensam alguns profissionais "biológicos" (que atribuem a melhora exclusivamente à medicação) e dos seus correspondentes psicanalíticos na ortodoxia, que muitas vezes são contra a medicação por pensar que esta não cura, apenas "anestesia o sintoma".
Calligaris no texto, dentre muitas outras perguntas, responde uma sobre o que fazer quando um paciente foge de falar da sua infância? Como prosseguir o tratamento se acreditamos que os traumas vêm da história de vida desse sujeito? Muito certo do que diz e sempre muito polêmico o autor retruca com outra pergunta, será que está na infância e somente nela a razão de todo o nosso sofrimento psíquico? E segue argumentando, dizendo que o trauma é um evento mais ou menos difícil, que em um SEGUNDO momento, não consegue ser integrado na história do sujeito, ou seja, o autor acredita que o caráter traumático de um acontecimento não depende de alguma qualidade específica da experiência vivida, mas é um efeito de como, mais tarde, essa experiência pode ou não integrar uma história que faça sentido no sujeito. E conclui dizendo que os eventos infantis não são mais marcantes do que os de hoje, mas os eventos de hoje, diz Calligaris, tomam relevância e sentido a partir dos de nosso passado e, portanto, de nossa infância.
Talvez a parte mais interessante do livro seja a crítica que faz do distanciamento apresentado pelo discurso psicanalítico em algumas instituições em relação ao que deveria ser o seu objeto: o trabalho com o paciente. É justamente aí que está o seu maior mérito: situa a terapia no consultório, ocorrendo entre duas pessoas, uma querendo se livrar de alguma forma de sofrimento e outra procurando viver do trabalho de cuidar dessa pessoa. Pode parecer óbvio, mas não é freqüente que textos técnicos tratem de assuntos como "O que fazer para ter mais pacientes?", "O que dizer ao paciente sobre a terapia no início do tratamento?" ou "E se o paciente me dá sono?", mesmo que essas perguntas sejam assíduas entre as preocupações não só dos iniciantes. Nesse particular, o livro de Calligaris ganha por não ser "técnico".
Existem muitos outros levantamentos no livro a cerca da atuação psicoterápica pelo autor, porém não caberia me estender mais, pois nada melhor do que ler o próprio, da sua maneira única e afetuosa de falar para tirar conclusões individuais e refletir sobre elas, principalmente se você também é um futuro aspirante da psicoterapia. Assim, podemos concluir que o livro é de fácil e rápida leitura e que uma coisa continua certa: quer para o terapeuta médico, quer para o terapeuta psicólogo, o caminho não é fácil e o entendimento dessas pequenas coisas, se não consegue nos tornar menos árduo, pelo menos alerta para que certas dificuldades requerem, além da técnica, sensibilidade e intuição.