terça-feira, 17 de junho de 2008

TRANSTORNO DA TIMIDEZ...

Batizada “evitação” na edição III-R da classificação americana (DSM-III-R: Distúrbio de evitação), preferimos conservar o termo TIMIDEZ. Aparece no DSM- IV com os subtipos “inibido” e “desinibido” do “distúrbio de apego defeituoso da criança”.
A timidez pode ser definida como o desconforto e a inibição em situações de interação pessoal, que interferem na realização dos objetivos particulares e profissionais de quem a sofre. Caracteriza-se pela obsessiva preocupação com as atitudes, reações e pensamentos dos outros. A timidez aflora geralmente (mas não exclusivamente) em situações de confronto com a autoridade, interação com pessoas do sexo oposto, contato com estranhos e à fala diante de grupos. A timidez é um padrão de comportamento em que a pessoa não exprime - ou exprime pouco - seus pensamentos e sentimentos, e não interage ativamente. Embora não comprometa de forma significativa a realização pessoal, constitui-se em fator de empobrecimento da qualidade de vida.
A timidez é uma característica da personalidade. Em algumas pessoas, ela é mais acentuada; em outras, só aparece em momentos em que é necessário se expor. É considerada natural quando a criança ou adolescente é exposto a uma situação onde será avaliado, observado, ao fazer algo pela primeira vez, e se sente inseguro. É a famosa “vergonha”. Já a timidez em excesso impede a criança ou adolescente de realizar alguma tarefa - como apresentar um trabalho em sala de aula, participar de uma peça de teatro ou obter uma informação – e se relacionar com outras pessoas. A timidez é prejudicial quando passa a ser uma barreira, um empecilho para a realização de conquistas e resoluções de problemas.
Todos os graus de timidez podem ser vistos no comportamento. Existem, assim, crianças sempre calmas, facilmente submissas, agindo de modo que nunca se fale delas, qualificadas habitualmente de muito obedientes, mas que conservam, no entanto, uma possibilidade de contato com as outras crianças: brincam ou trabalham com prazer.
Podem-se encontrar mais importantes: crianças sempre isoladas que não ousam, apesar de seu desejo por vezes confesso, aproximar se dos outros, tanto dos adultos quanto das crianças: não brincam no pátio da escola, permanecem em casa durante os dias de folga, recusam atividades de grupo (pré-forma de fobia social). Sua atitude é, por vezes, contrastadas com seu próprio meio , onde podem, em um contexto protegido, mostrar-se autoritárias e dominadoras.
No ponto máximo, encontra-se realizado o quadro do mutismo extrafamiliar. Na maioria dos casos, a família fala de timidez simples que, quando se torna demasiadamente importante, pode entravar os processos de socialização da criança, de onde vem o termo de fobia social. Esta ocorre quando o tímido já nem consegue exercer suas atividades rotineiras por simples medo de se expor.
A timidez pode igualmente afetar o corpo da criança: pouco móvel, pouco ativo, mímica pobre. Chegando até a inabilidade gestual, até mesmo de verdadeiras dispraxias que nada mais fazem do que agravar o círculo vicioso da timidez.
“A timidez escolar, em particular, representa um dos motivos mais freqüentes de consulta de crianças entre 8 e 12 anos. A timidez pode afetar todos os setores da vida da criança, tanto as condutas socializadas quanto as mentalizadas. A timidez reflete na apenas a tendência comportamental (retraimento, evitação das relações sociais), mas também a tendência intrapsíquica( branco de memória, capacidade de pensar...)” (MARCELLI. p.240)
NA ESCOLA
Marta Braga, orientadora de Educação Infantil do Colégio Andrews, do Rio de Janeiro, numa entrevista dada para o site
www.bolsademulher.com.br, no dia 27/08/2005, comenta que são várias as causas que levam ao excesso de timidez, mas a mais freqüente é o alto nível de exigência consigo mesmo. “Essas crianças sentem um grande medo de desagradar ao outro”, ressalta. Ela conta que, no ambiente escolar, não é difícil notar os excessivamente tímidos. “Eles falam pouco, em voz baixa, fazem poucos amigos e não participam dos momentos coletivos”, descreve a orientadora.
Outra orientadora do mesmo colégio, Eneida Balthazar, atenta para o fato de que crianças tímidas demais podem ter o rendimento escolar prejudicado devido ao seu comportamento. “Isso pode acontecer, na medida em que elas não mostram o que sabem nem solicitam o auxílio dos adultos”, afirma. É aí que entra um trabalho todo especial dos pais e professores, que devem agir em conjunto para ajudar a criança a superar o problema. “Há uma preocupação da escola em favorecer o processo de construção de identidade e autonomia. É preciso que cada criança seja respeitada na sua singularidade. Nós orientamos os pais a incentivar o convívio com crianças fora da escola e que não cobrem o tempo todo a mudança desse comportamento. Já os professores devem incentivar a participação da criança, inicialmente em pequenos grupos, e tentar aproximá-la dos colegas nas brincadeiras de pátio. Em alguns casos é necessária a indicação de uma terapia”, diz Eneida.
DIÁLOGO, UM SANTO REMÉDIO
”Em casa, o primeiro passo para a melhora da criança é incentivá-la a falar. Deixar que ela conte o que sente e pensa às pessoas em quem ela mais confia: os pais. A criança precisa perceber que possui o direito de pensar, arriscar, tentar atingir seus objetivos. E o melhor lugar para fazer isso é o ambiente familiar, que deverá ajudá-la a melhorar sua auto-estima, transmitindo segurança e confiança. Quando os pais tiverem que dar orientação sobre algo, devem fazer sempre um reforço positivo ou um elogio. Depois, sim, devem falar a respeito de algo que desejam passar para o filho. A timidez em excesso é um problema que tem tratamento, mas que envolve não só a criança ou o adolescente, como também a participação dos pais e a parceria da escola.” (MOCELLIN, Anna, 2005)


REFERÊNCIAS
MARCELLI, D. Manual de psicopatologia da infância de Ajuriaguerra. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Site: E:\Timidez infantil - Bolsa de Mulher.mht

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Por que continuar falando em limites?

Parece fora de moda, desinteressante e até cansativo falar em limites. A palavra não impressiona e não seduz a atenção dos pais, fazendo-nos acreditar que esta é uma questão já superada, aprendida e utilizada na educação dos filhos. Os temas preocupantes de hoje são outros, entre eles: a violência urbana, a falta de valores em crianças e jovens, o bullying, o uso de álcool e drogas e o desinteresse por atividades escolares, etc.

Pensando assim, por que escrever um texto que trata da falta de limites e das conseqüências negativas que daí repercutem? Por que insistir em um tema que tantas vezes já foi abordado neste projeto Conversando com os Pais?

A resposta está clara: a excessiva permissividade dos pais, o receio de impor limites e o eterno desejo de preparar os filhos para sucessos e protegê-los das frustrações está na base dos problemas citados acima.

A criança que agride a professora, que se nega a cumprir as regras de socialização da escola, assim como o jovem que desrespeita o idoso, que transgride as leis de trânsito e o adulto que não consegue firmar-se numa relação amorosa estável ou numa profissão, são vitimas e resultado de uma educação familiar que, por motivos diversos e por repetidas vezes, não conseguiu conscientizá-lo e responsabilizá-lo por suas ações.

A psicopedagoga Adriana Meyer Torres, através de seu texto SE FALTAM LIMITES, AUMENTAMOS AS CONSEQÜÊNCIAS NEGATIVAS, pesquisa a fundo as conseqüências negativas que a falta de limite pode trazer, assim como apresenta sugestões aos pais para resolver ou prevenir este fato. Veja os principais trechos:
”Aos dois anos é apenas um “piti” no supermercado; uma birra totalmente compreensiva e tolerável, afinal, a criança pequena está aprendendo a lidar com a questão do pode ou não pode. Em pouco tempo, os ataques de raiva da criança – agora com 4 ou 5 anos – se intensificam, deixando-nos frente a situações constrangedoras sempre justificadas pelo sono, nariz entupido, princípio de gripe e outras desculpas típicas dos familiares. Já após os 7 anos, estas atitudes se tornam tão incômodas e insuportáveis que assustam os responsáveis, obrigando-os a buscar novas interferências e, o pior, trazem a triste constatação que a tendência é só piorar.
A dificuldade de aceitar limites vai tornando crescente e em pouco tempo aparecem problemas nas relações com os colegas, no comportamento na escola e nas festas familiares. A próxima fase, se não houver uma ação coerente, são os distúrbios de conduta, desrespeito aos pais, colegas e autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, baixo rendimento e a percepção que este indivíduo está adquirindo uma visão totalmente distorcida da realidade.
A partir de agora ninguém mais agüenta conviver com este “reizinho” tirano e mandão, que só reconhece o seu querer, o seu bem-estar e o seu prazer. Daí para agir com agressões físicas, perder o controle se contrariado e não persistir diante das dificuldades, é um pequeno pulo.
Se, por um lado, as pequenas ações agressivas são consideradas normais na criança, não é nada normal (e nem saudável) a falta de postura e de comprometimento do adulto próximo, que hesita em intervir ou se nega a tomar atitudes coerentes e constantes (até porque a ação educativa é um processo longo e demorado) para pontuar e fortalecer os vínculos afetivos positivos.
Cada vez que nós tomamos consciência que devemos dizer sim sempre que possível e não sempre que necessário, agimos ensinando às crianças e adolescentes que os direitos são iguais para todos, que minha liberdade acaba onde começa a do outro e que é necessário aturar pequenas frustrações para poder enfrentar a vida.
Para isso, não precisamos bater, gritar, ser autoritários ou mesmo exigir atitudes convenientes somente aos nossos interesses; basta premiar e recompensar com atitudes verdadeiramente positivas. Ou seja, ressaltar sempre a ação correta com um elogio, manifestando e destacando modelos positivos, dando palavras de estímulos e exemplificando possibilidades para que o indivíduo possa analisar os fatos por outras perspectivas, e principalmente preparar-se para assumir a responsabilidade pelos seus atos.
O princípio básico para uma ação funcional é diferenciar necessidade de desejo. Há itens que são necessários e indiscutíveis para a idade, como: com comida não se brinca, na varanda só pode ir acompanhado, ir à escola é obrigação e não escolha, dirigir só após pegar a habilitação, etc. Outros não passam de modismo e desejo, e para isso se concretizar precisam ser discutidos, avaliados e associados ao comprometimento pessoal, por exemplo: pode ir à uma festa durante a semana desde que se comprometa em não faltar a aula no dia seguinte.
Crianças entre 1 e 4 anos precisam ser premiadas ou ter ciência da conseqüência imediatamente no momento do seu ato. Nada de esperar chegar em casa ou o dia seguinte. Já entre 5 e 7 anos, aja com mais disciplina e sempre com coerência. Enuncie as normas aos poucos e seja bem claro, não impondo, mas participando-os de cada colocação. Entre 8 e 11 anos, exija que digam onde estão e com quem. Reserve um tempo diário para conversarem. Reforce constantemente valores éticos e passe segurança que eles não devem acompanhar os outros e/ou agir por medo de perder uma amizade.
Já na adolescência, é imprescindível que eles sejam responsabilizados pelos atos inadequados. Tenha compreensão, seja justo e equilibrado. Saiba ouvi-los e tolere os momentos de mudez absoluta, ignore a cara feia e os resmungos. Faça-os reconhecer e respeitar as normas vigentes. Ressalte as vitórias escolares, esportivas e sociais. Mantenha o diálogo. Seja verdadeiro, breve e objetivo sempre. Incentive-os a falar de suas vidas, pensamentos e a ser independente.
E, para encerrar, percebam que em momento algum as sugestões de premiação são bens materiais. Busquem valorizar o carinho, o afeto e o reconhecimento através de bilhetes motivadores, pequenos passeios, jantares especiais e outras surpresas amistosas.”

O SOEP do Colégio Antares deseja que estes esclarecimentos tragam as respostas necessárias para que seus filhos tornem-se cidadãos com valores éticos, seres humanos felizes e dispostos a colaborar com o bem estar familiar, escolar e social.
BIBLIOGRAFIA:
Elaborado pelo SOEP, com base no texto “Se faltam limites, aumentamos as conseqüências negativas” de Adriana Meyer Torres.