sexta-feira, 6 de junho de 2008

Por que continuar falando em limites?

Parece fora de moda, desinteressante e até cansativo falar em limites. A palavra não impressiona e não seduz a atenção dos pais, fazendo-nos acreditar que esta é uma questão já superada, aprendida e utilizada na educação dos filhos. Os temas preocupantes de hoje são outros, entre eles: a violência urbana, a falta de valores em crianças e jovens, o bullying, o uso de álcool e drogas e o desinteresse por atividades escolares, etc.

Pensando assim, por que escrever um texto que trata da falta de limites e das conseqüências negativas que daí repercutem? Por que insistir em um tema que tantas vezes já foi abordado neste projeto Conversando com os Pais?

A resposta está clara: a excessiva permissividade dos pais, o receio de impor limites e o eterno desejo de preparar os filhos para sucessos e protegê-los das frustrações está na base dos problemas citados acima.

A criança que agride a professora, que se nega a cumprir as regras de socialização da escola, assim como o jovem que desrespeita o idoso, que transgride as leis de trânsito e o adulto que não consegue firmar-se numa relação amorosa estável ou numa profissão, são vitimas e resultado de uma educação familiar que, por motivos diversos e por repetidas vezes, não conseguiu conscientizá-lo e responsabilizá-lo por suas ações.

A psicopedagoga Adriana Meyer Torres, através de seu texto SE FALTAM LIMITES, AUMENTAMOS AS CONSEQÜÊNCIAS NEGATIVAS, pesquisa a fundo as conseqüências negativas que a falta de limite pode trazer, assim como apresenta sugestões aos pais para resolver ou prevenir este fato. Veja os principais trechos:
”Aos dois anos é apenas um “piti” no supermercado; uma birra totalmente compreensiva e tolerável, afinal, a criança pequena está aprendendo a lidar com a questão do pode ou não pode. Em pouco tempo, os ataques de raiva da criança – agora com 4 ou 5 anos – se intensificam, deixando-nos frente a situações constrangedoras sempre justificadas pelo sono, nariz entupido, princípio de gripe e outras desculpas típicas dos familiares. Já após os 7 anos, estas atitudes se tornam tão incômodas e insuportáveis que assustam os responsáveis, obrigando-os a buscar novas interferências e, o pior, trazem a triste constatação que a tendência é só piorar.
A dificuldade de aceitar limites vai tornando crescente e em pouco tempo aparecem problemas nas relações com os colegas, no comportamento na escola e nas festas familiares. A próxima fase, se não houver uma ação coerente, são os distúrbios de conduta, desrespeito aos pais, colegas e autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, baixo rendimento e a percepção que este indivíduo está adquirindo uma visão totalmente distorcida da realidade.
A partir de agora ninguém mais agüenta conviver com este “reizinho” tirano e mandão, que só reconhece o seu querer, o seu bem-estar e o seu prazer. Daí para agir com agressões físicas, perder o controle se contrariado e não persistir diante das dificuldades, é um pequeno pulo.
Se, por um lado, as pequenas ações agressivas são consideradas normais na criança, não é nada normal (e nem saudável) a falta de postura e de comprometimento do adulto próximo, que hesita em intervir ou se nega a tomar atitudes coerentes e constantes (até porque a ação educativa é um processo longo e demorado) para pontuar e fortalecer os vínculos afetivos positivos.
Cada vez que nós tomamos consciência que devemos dizer sim sempre que possível e não sempre que necessário, agimos ensinando às crianças e adolescentes que os direitos são iguais para todos, que minha liberdade acaba onde começa a do outro e que é necessário aturar pequenas frustrações para poder enfrentar a vida.
Para isso, não precisamos bater, gritar, ser autoritários ou mesmo exigir atitudes convenientes somente aos nossos interesses; basta premiar e recompensar com atitudes verdadeiramente positivas. Ou seja, ressaltar sempre a ação correta com um elogio, manifestando e destacando modelos positivos, dando palavras de estímulos e exemplificando possibilidades para que o indivíduo possa analisar os fatos por outras perspectivas, e principalmente preparar-se para assumir a responsabilidade pelos seus atos.
O princípio básico para uma ação funcional é diferenciar necessidade de desejo. Há itens que são necessários e indiscutíveis para a idade, como: com comida não se brinca, na varanda só pode ir acompanhado, ir à escola é obrigação e não escolha, dirigir só após pegar a habilitação, etc. Outros não passam de modismo e desejo, e para isso se concretizar precisam ser discutidos, avaliados e associados ao comprometimento pessoal, por exemplo: pode ir à uma festa durante a semana desde que se comprometa em não faltar a aula no dia seguinte.
Crianças entre 1 e 4 anos precisam ser premiadas ou ter ciência da conseqüência imediatamente no momento do seu ato. Nada de esperar chegar em casa ou o dia seguinte. Já entre 5 e 7 anos, aja com mais disciplina e sempre com coerência. Enuncie as normas aos poucos e seja bem claro, não impondo, mas participando-os de cada colocação. Entre 8 e 11 anos, exija que digam onde estão e com quem. Reserve um tempo diário para conversarem. Reforce constantemente valores éticos e passe segurança que eles não devem acompanhar os outros e/ou agir por medo de perder uma amizade.
Já na adolescência, é imprescindível que eles sejam responsabilizados pelos atos inadequados. Tenha compreensão, seja justo e equilibrado. Saiba ouvi-los e tolere os momentos de mudez absoluta, ignore a cara feia e os resmungos. Faça-os reconhecer e respeitar as normas vigentes. Ressalte as vitórias escolares, esportivas e sociais. Mantenha o diálogo. Seja verdadeiro, breve e objetivo sempre. Incentive-os a falar de suas vidas, pensamentos e a ser independente.
E, para encerrar, percebam que em momento algum as sugestões de premiação são bens materiais. Busquem valorizar o carinho, o afeto e o reconhecimento através de bilhetes motivadores, pequenos passeios, jantares especiais e outras surpresas amistosas.”

O SOEP do Colégio Antares deseja que estes esclarecimentos tragam as respostas necessárias para que seus filhos tornem-se cidadãos com valores éticos, seres humanos felizes e dispostos a colaborar com o bem estar familiar, escolar e social.
BIBLIOGRAFIA:
Elaborado pelo SOEP, com base no texto “Se faltam limites, aumentamos as conseqüências negativas” de Adriana Meyer Torres.

Nenhum comentário: