quinta-feira, 8 de maio de 2008

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

O brinquedo nada mais é do que a linguagem da criança.”(FESCHER, 2006)

Os jogos e as brincadeiras não costumam ser levados muito a sério pelos adultos. Aliás, gente séria não perde um minuto do seu precioso tempo brincando. Deve se ocupar e, sobretudo, produzir!
Não é a toa que as crianças modernas estão cada vez mais pressionadas por pais, educadores e o próprio meio social a executarem tarefas que não têm fim, mantendo todas as horas de seu dia bem preenchidas com atividades que vislumbram o seu “futuro” e as separam da fugaz infância.
Como educadores sabemos que nem sempre essa prática resulta na formação de pessoas competentes. Furta-se a infância, momento único e rico de aprendizagens, as quais se tornam concretas por meio do BRINCAR.
Por meio do brincar espontâneo, a criança está experimentando o mundo, os movimentos e as reações, tendo assim elementos para desenvolver atividades mais elaboradas no futuro.
Através do simbólico jogo da brincadeira, a criança irá entender o mundo ao redor, testar habilidades físicas (correr, pular), funções sociais (ser o construtor, a enfermeira, a secretária), aprender as regras, colher os resultados positivos ou negativos dos seus feitos (ganhar, perder, cair), registrando o que deve ou não repetir nas próximas oportunidades (ter mais calma, não ser teimoso). A aprendizagem da linguagem e a habilidade motora de uma criança também são desenvolvidas durante o brincar.
A brincadeira permite um extravasar dos sentimentos, auxilia na reflexão sobre a situação, criando várias alternativas de conduta para o desfecho mais satisfatório ao seu desejo.
AS BRINCADEIRAS E SEUS SIGNIFICADOS
Brincar de se esconder e aparecer ou esconder e achar objetos é a primeira atividade lúdica de uma criança. Através dessa ação ela elabora a angústia de desprendimento por um objeto que pode vir a perder. A maioria das mães sai todos os dias para trabalhar e “desaparecem” do campo visual daquela criança, mas logo depois de terminar suas atividades volta a aparecer, com isso esse jogo simbólico ajuda o bebê a elaborar essa angústia que é ficar sem a mãe, tendo a certeza que ela vai voltar. Esta é a forma que a(o) menina(o) experimenta de perder e recuperar aquilo que ama.
A criança também descobre através dos movimentos que ao bater em objetos pode reproduzir sons. Todos os sons lhe interessam e muitos lhe assustam. Ela tenta reproduzi-los para vencer o medo.
Na segunda metade do primeiro ano surge novo interesse em seus brinquedos: descobre que algo oco pode conter objetos e que alguns objetos podem entrar em objeto oco. Este grande descobrimento é o anúncio de forma adulta de manifestar amor e afetividade. Passa, assim, a explorar tudo o que seja dessa natureza e a usar tudo o que possa servir para brincar dessa forma: os olhos, os ouvidos e a boca, lhe permitem fazer suas primeiras experiências de exploração.
Logo aparecerá o interesse pela bola, brinquedo que constituirá o centro de seu interesse. Esse objeto tem um excelente valor substitutivo da mãe, pelo formato circular (similar ao ventre materno), fazendo a criança procurar um contato as vezes mais afetivo. Porém, a bola pode ser utilizada na agressão, para bater no adulto, pois ainda não ousam a abordá-lo corporalmente.
Podemos citar também o interesse da criança pelas cordas. Esta despertam desejos agressivos de dominação e servem para amarrar, enrolar, imobilizar o outro, mas as possibilidades técnicas de se fazer um nó é quase inexistente nessa idade, por isso ocorre a frustração, o que ensina a criança a conviver com esse sentimento. A agressão é então reduzida. A corda também servem de meio de união à distância, lembrando assim o cordão umbilical, mediador de contato.
Os bambolês, brinquedo de grande interesse durante a primeira infância, são espaços fechados, dentro dos quais podemos incluir o corpo, proporcionando às crianças dobrarem o corpo neles, ficando em posição fetal. Esse objeto serve também para capturar o outro, adulto ou criança. Tal “captura”, especialmente a do adulto, tem umas significações diferentes, de acordo com o que a criança está vivenciando no momento, podendo ser agressiva ou afetiva.
Assim com as bonecas, os animais prediletos serão objetos de amor e maus tratos. O começo da aprendizagem sobre a maternidade e a paternidade se traduzirá em jogos com esse material. Além desses, já citados, existem outros brinquedos eleitos pelas crianças como importantes, no decorrer de sua vida, cada qual com um valor simbólico, dependendo de sua história.
Com base nisso, Winnicott comenta que o brincar é a base fundamental da existência humana, representando, pois, a própria saúde, sendo a base de todo o agenciamento simbólico e do desenvolvimento infantil. É bom recordar, diz o autor, que o brincar é por si mesmo uma terapia.

PSICOMOTRICIDADE
Trata-se de uma prática de mediação corporal que, através da brincadeira espontânea, oferece um espaço de liberdade no qual a criança pode se mostrar abertamente. Através de seu corpo, emoções, fantasias, medos e conflitos a criança se apresenta com um SER inteiro e encontra, nesta proposta, um meio no qual são legitimados os seus pedidos, suas necessidades, bem como o conhecimento e o reconhecimento de si e dos outros.

TEORIA X PRÁTICA

· COORDENAÇÃO DINÂMICA GLOBAL: Possibilidade do controle e da organização da musculatura ampla para a realização de movimentos complexos. Ex: Correr, andar, saltar, rastejar, etc.
· COORDENAÇÃO MOTORA FINA: Capacidade de controlar os pequenos músculos para exercícios refinados. Ex: Recorte, colagem, encaixe, etc.
· EQUILÍBRIO: É a noção de distribuição do peso em relação a um espaço e a um tempo e em relação ao eixo de gravidade. Ex: Andar na ponta dos pés, andar com um copo de água na mão, etc.
· LATERALIDADE: É a capacidade motora de percepção integrada dos dois lados do corpo (direito e esquerdo). Ex: Pular de um pé só, cruzar a mão direita na orelha esquerda, etc.
· TÔNUS: Refere-se a firmeza muscular, está presente nos músculos em repouso e em movimento .Ex: Subir escadas, brincar de “cabo de guerra”, etc
· ORIENTAÇÃO TEMPORAL: Diz respeito à maneira como a criança se situa no tempo (ontem, amanhã). Ex: Montar o calendário da escola, contar o que fez ontem, comemorar aniversários, os planos pra amanhã, marchar, andar em diferentes velocidades, etc.
· ORIENTAÇÃO ESPACIAL: È a maneira como a criança se localiza no espaço que a circunda (“estou atrás da cadeira”) e como situa as coisas, umas em relações às outras (“a bola está de baixo da mesa”).Ex: Uma criança se esconde e a outra tem que dizer aonde ela está, etc.
· PERCEPÇÃO: É a capacidade de reconhecer estímulos. Ex: Jogos que dêem a capacidade de reconhecer o quente-frio, pesado- leve, seco- molhado, etc.


“O homem está no menino, só que o menino não sabe.
O menino está no homem, só que o homem esqueceu.” (ZIRALDO, 1997)


REFERÊNCIAS

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fonseca, 1996.
SANCHÉZ, Pilar Arnaiz. A psicomotricidade da educação infantil: uma prática preventiva e educativa.
VAYER, Pierre. O Diálogo Corporal: A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. São Paulo, Sp: Manole Ltda, 1984.
WINNICOTT, Clare. Explorações Psicanalíticas: D. W. WINNICOTT. Porto Alegreok: Artes Médicas Sul, 1994.
JARDIM, Cláudia Santos. BRINCAR: Um Campo de Subjetivação na Infância. 2. ed. São Paulo: Annabllume, 2003.
FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fonseca, 1996.
OLIVEIRA, Gisleine de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação psicomotora num enfoque pedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
PICQ, L. e VAYER, P. Educação psicomotora e retardo mental. 4. ed. São Paulu: Manole, 1988.
SANCHÉZ, Pilar Arnaiz. A psicomotricidade da educação infantil: uma prática preventiva e educativa.
YAÑEZ, Zulema Garcia. Psicomotricidade e seus Conceitos Fundamentais: Esquema e Imagem Corporal In Escritos da Criança N. 4. Porto Alegre, RS: Centro Lydia Coriat, 1994.
BOSSENMEYER, Melinda. Guia Para o Desenvolvimento da Percepção Motora. São Paulo, Sp: Manole Ltda, 1989.
VAYER, Pierre. O Diálogo Corporal: A ação educativa para a criança de 2 a 5 anos. São Paulo, Sp: Manole Ltda, 1984.
ABERASTURY, Arminda. A Criança e Seus Jogos. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
CATUNDA, Ricardo. Brincar, Criar e Vivenciar na Escola. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
MEUR, A. de. Psicomotricidade: educação e reeducação: níveis maternal e infantil. São Paulo: Manole, 1989.
ABERASTURY, Arminda. Psicanálise da Criança: Teoria e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.


S

Nenhum comentário: