domingo, 4 de maio de 2008

MÃE, ESTOU GORDO??

Vivemos aparentemente na era do respeito pelos direitos humanos, mas, por desconhecermos o teatro da nossa mente, não percebemos que jamais esses direitos foram tão violados nas sociedades democráticas. Alguns estudiosos falam de uma ditadura que frustra a auto-estima do ser humano: a ditadura da beleza. Cerca 600 milhões de mulheres são vítimas dessa busca inalcançável pela beleza das passarelas.
O que ocorre é que esses padrões mexem com o psicológico das pessoas, pois fica claro o conflito: não sabem como se valorizar pelos pensamentos e atitudes. Existe uma influência acirrada que impõe padrões magérrimos fazendo-as acreditar, cada vez mais, que só serão bem aceitas pela sociedade caso se aproximem desse ideal.
No caso dos homens, em menor escala, essa cobrança também é alta. Os garotos com sobrepeso sempre são discriminados pelos colegas nas atividades esportivas e acabam sofrendo preconceito no dia-a-dia.
Os padrões de beleza são definidos pelas propagandas na TV e em revistas. Isto é resultante de uma mídia capitalista que bombardeia tantas informações de forma que a pessoa chega até mesmo a esquecer sua individualidade e a natureza da beleza. Os resultados desta forte influência são notórios, como a obsessão pela magreza, as dietas, a malhação, a
cirurgia plástica, a moda e os produtos de beleza.
Os transtornos alimentares podem provocar graves conseqüências e levar à morte. Há alguns anos estes eram encontrados somente entre adultos, geralmente mulheres jovens, de classe média. Aos poucos, porém, o perfil dos pacientes com tal distúrbio foi mudando. A doença passou a atingir pessoas cada vez mais jovens até chegar a crianças de ambos os sexos.
Atualmente, já podemos supor que as raízes dos transtornos alimentares encontram-se na infância, já que na nossa cultura as crianças são encorajadas a acreditar que ser magro é uma necessidade. As meninas, de forma particular, já nos cinco primeiros anos de vida começam a associar magreza com beleza e sucesso. Elas são expostas a esta mensagem até mesmo através dos brinquedos, como a boneca barbie (magra e bela). Os homens, por sua vez, aprendem a admirar e buscar o padrão forte, alto e musculoso.
Por trás desta ditadura da beleza estão as crenças: “a gordura não é algo que você tem, mas é algo que você é”; “a gordura é má”. Tais afirmaçãoes são internalizadas pela criança, aumentando ainda mais a sua vulnerabilidade aos padrões descritos acima.
A família tem um papel fundamental na educação alimentar de seus filhos, podendo ajudar as crianças a manterem um peso mais saudável sem incutir as mensagens de que a gordura é má e que ser gordo é feio. De acordo com isso, Brazelton, médico pediatra, cita em seu livro “Momentos Decisivos do Desenvolvimento Infantil” alguns pontos que podem ser seguidos pelos pais que buscam essa educação:

¥ Enfatize a confiança da criança com relação ao próprio corpo. É importante fazer com que ela desenvolva uma consciência corporal.
¥ Ensine sobre a diversidade das pessoas (pesos e alturas diferentes não determinam quem as pessoas "são"). Cada pessoa tem seus atrativos. Cultue a idéia de que existem muitos pesos normais que estão de acordo com a idade, a altura e o sexo da pessoa.
¥ Estimule a individualidade: "Você e seu corpo são únicos e originais"; "Você tem o direito de se sentir bem consigo mesmo independente do seu aspecto e peso".
¥ Não defina os alimentos como "bons" ou "maus". Com essa categorização dos alimentos você fará com que seu filho se torne vulnerável para ser um futuro candidato que irá resolver seus conflitos emocionais através do alimento (comendo demais ou de menos).
¥ Discuta sobre alimentação e nutrição em termos de "combustível do corpo" e não em categoria "bom/mau".
¥ Valorize o seu próprio corpo. Existem muitos pais que esperam que a criança tenha um comportamento confiante em relação ao próprio corpo, quando eles mesmos não têm. Não adianta uma mãe dizer a filha o quanto ela é bonita, quando ela mesma vive se depreciando o tempo todo.
¥ Não deixe a criança ser manipulada por publicidades. Ensine-a a ser crítica como consumidora, não deixando que ela seja influenciada por falsos conceitos de beleza e felicidade.
¥ Mostre à criança que não é necessário ser "perfeito" para ser feliz, nem para ser amado.
¥ Faça-a entender que todos têm capacidades e limitações e que você não espera que ela seja capaz de tudo.
¥ Enfatize as qualidades dela e mostre que sente orgulho.
¥ O esporte deve ser valorizado como diversão e uma oportunidade de socialização, fazendo novos amigos, não simplesmente uma pratica para perder peso ou ficar em forma.
¥ Uma alimentação variada é mais saudável.

Contudo, se seu filho costuma se recusar, durante vários meses, a comer até mesmo os alimentos essenciais para um crescimento saudável, talvez tenha chegado o momento de procurar ajuda. Se ele não estiver engordando e estiver abaixo do peso normal, é melhor aconselhar-se com um profissional. Tendo em vista que qualquer distúrbio físico vai refletir-se na alimentação, o médico vai querer verificar isso em primeiro lugar. Se não houver nenhum problema médico, um psicoterapeuta poderá avaliar o seu filho e ajudar quantos aos problemas com a alimentação. O importante é não se desesperar.
Para fugir desses padrões de beleza impostos pela mídia, que às vezes agridem tanto o aspecto físico quanto o emocional, talvez seja necessário que as pessoas dêem outro significado aos seus conceitos de beleza e aos de seus filhos, priorizando os pontos fortes a fim de descobrir sua beleza natural.
Auto-estima, segundo Augusto Cury, é um estado de espírito, um oásis que deve ser procurado no território da emoção. Cada mulher, homem, adolescente e criança deveria ter um caso de amor consigo mesmo, um romance com a própria vida, pois todos possuem uma beleza física e psíquica particular.


“Beleza é algo, na sua essência, muito relativo. Não é uma ciência exata como, por exemplo, a matemática em que 2 + 2 = 4 e não há questionamentos.” (Rambo do Senegal)

BIBLIOGRAFIA: Texto adaptado dos livros
CURY, Augusto Jorge. A ditadura de beleza e a revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
BRAZELTON, T. Berry. Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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